domingo, 22 de maio de 2011

A Fé e a Emancipação: O Milagre do Santo de Lisboa


          De um povo com religiosidade marcante surgiu a devoção a Santo Antônio, pois antes de existirem capelas já se reuniam nas residências onde celebravam novenas oferecidas ao Santo de Lisboa e a diversos outros, era o ponto de encontro da sociedade, enquanto povoado. A população foi crescendo, a devoção idem ao ponto que em uma das visitas do Pe. José Zimmermany, ou José Alemão como era conhecido, ao Rodeador foi sugerida a construção de uma Capela próxima à casa de André Ramos, já que toda a comunidade tinha o hábito de freqüentar sua residência para as festas de santos, principalmente as trezenas de Santo Antônio no mês de junho, ponto máximo da religiosidade de nosso povo. 
          A Imagem de Santo Antônio que é venerada até hoje e ocupa o Altar-mor da Igreja Matriz foi trazida de Portugal, enviada por colegas do Padre José Alemão de Lisboa por navio até Recife, onde Tributino de Carvalho aguardava para transportá-la até o Rodeador. A Igreja começou a ser construída em 1938, ainda em construção foi celebrada a primeira missa e realizado o primeiro casamento, o casal era Pedro Inocêncio e Rosa, em dezembro de 1939. Somente no ano de 1940 foi dada a bênção de inauguração da Capela que em 1955, foi completamente restaurada e ampliada adquirindo assim a estrutura e o seu tamanho atual.
          André Ramos foi o primeiro dirigente da igreja. A doação do terreno feita por ele para a construção da Igreja foi decisiva para a escolha do local, já que outros locais foram cogitados, como também foi decisiva para a localização do povoado, pois, uma vez construída a Igreja, as pessoas começaram a construir em volta dela suas residências. Assim foi surgindo o povoado que logo sentiu a necessidade de um local para o comércio. Ao lado da igreja existia um pátio grande de areias brancas, onde as pessoas costumavam se encontrar após as rezas e foi ali que decidiram construir, em terreno também doado por André Rodrigues (André Ramos), o Mercado Público Municipal Deputado Issac Batista de Carvalho, ambientes comum nas vilas e pequenas cidades do Nordeste. Cada proprietário construía seu próprio ponto comercial, o que levou alguns anos para ser concluído. Pedro Leônidas e Joaquim André foram os primeiros a construir, um em cada esquina. O restante foi sendo feito aos poucos: bares, armazéns, lojas de tecidos e as populares "bodegas", que vendiam de tudo. No centro do mercado acontecia a feira livre todos os domingos, sendo que no início era um pouco tímida, com apenas algumas pessoas vendendo carnes, farinha e rapadura. O Sr. Manoel Adelino foi um dos primeiros desses vendedores, vindo da localidade de Canela d’Ema, município de Bocaina para comercializar rapadura, goma de mandioca e feijão. Com o passar dos tempos a feira foi evoluindo e tornou-se tradição em toda a região.
          É possível afirmar com categoria que o desenvolvimento de nosso povoado, suficiente para que se tornasse  cidade está ligado a fé, a força desses grandes homens, que terminaram por se tornar autoridades (autoridades extra-oficiais) e que lutaram para desmembrar nosso povoado e torná-lo município, seria essa a grande benção de Santo Antônio, nosso padroeiro.
          O povoado Rodeador deixa de existir em 19 de dezembro de 1963, dia da publicação a Lei Estadual Nº 2.560, criando o município de de Santo Antônio de Lisboa, que só seria oficialmente instalado e emancipado em 9 de abril de 1964, durante o Governo Estadual de Petrônio Portella Nunes.
          Ao contrário do que acontecia nas regiões metropolitanas do país (dado o Golpe Militar de 31 de março de 1964), Santo Antônio crescia harmoniosamente, não sentia, pois a grosso modo grandes reflexos da ditadura, uma vez que em menos de um ano da nomeação de João Cirilo de Sousa para o cargo de primeiro prefeito, os santoantonienses já puderam escolher seu representante através de eleições diretas em janeiro de 1965.   
          A população recebeu a emancipação com festa, é claro uma celebração moldada aos costumes da época, sem luz elétrica, sem muito barulho, mas em espírito sentiam-se todos mais independentes, mais livres... Porém, grandes e acirradas disputas políticas os aguardavam, isso é claro será abordado em outra postagem.

- Do desejo de ocupar, surge o Rodeador, da riqueza da terra Santo Antônio de Lisboa - Formação


Eram 5:30 e os primeiros raios solares já começavam a iluminar vales e serras, riachos e veredas. O Sabiá anunciava a chegada de mais um dia, seu canto ecoava sobre esta terra virgem, era a natureza contemplando mais uma vez seu ciclo.
Em Portugal o rei concedia um presente a João Borges Marinho de Brito, dado em agradecimento aos excelentes  serviços prestados à Coroa, um lote de terra que foi entregue efetivamente a seu filho Antônio Borges Marinho. Após chegar com a sua mulher, de nome Rosa, e comitiva formada por irmãos e escravos, ordenou que alguns servos de sua confiança fizessem o reconhecimento do local e, quando teve certeza de que aquela terra era propícia para a pecuária, já que existia ali água em abundância, dividiu as terras em três fazendas, denominando-as Guaribas, Boqueirão e Rodeador.
Dos descendentes de Borges Marinho (como ficou conhecido) que vieram cuidar da fazenda Rodeador pode-se destacar Pedro de Sousa Brito, filho de Raimundo de Sousa Brito, herdeiro único de Borges Marinho. Pedro fixou residência na margem direita do Rio Riachão, no sentido leste-oeste, próximo ao cemitério de Rosa, tendo constituído ali uma família muito numerosa que daria origem à família Cipriano, por meio de seu filho José Cipriano de Sousa Brito.
Formava-se aqui o primeiro agrupamento de pessoas, que se deu nas margens do Rio Riachão.  No início do ano de 1818, chegava ao Jenipapeiro (atual Francisco Santos) uma família provinda da Bahia. Não se sabe por qual motivo essas pessoas resolveram lá se instalar. Sabe-se apenas que elas migraram devido a um grande desgosto ocorrido em seio familiar e que, ao todo, eram dois casais, cujos nomes eram Antônio Rodrigues da Silva e Isabel, Policarpo Rodrigues Chaves e Rosa Maria Rodrigues, bem como Maria Vitória (mãe de Isabel), Policarpo e Salvador Rodrigues Chaves (solteiro), além de um grupo de escravos. Alguns filhos desses casais e descendentes do grupo de escravos vieram residir no Rodeador, tendo constituído família com os que residiam aqui. Mas, por que Rodeador? 

Pelos idos de 1820 as tropas militares que combatiam a coroa portuguesa pela independência do Brasil se deslocavam pelas margens do Rio Riachão vindas dos estados do Ceará, Bahia e Pernambuco com destino ao Piauí e ao Maranhão. As tropas militares usaram esse caminho durante alguns anos antes da Batalha do Jenipapo, em 13 de maio de 1823, tinham dois importantes acampamentos nessa região: um no Jenipapeiro, hoje município de Francisco Santos, e outro no Rodeador. Devido à grande volta que o Rio Riachão faz entre as passagens dos Patos e do Quadrado as tropas teriam denominado essa localidade de Rodeador, que assim ficou conhecida até a emancipação.
A agricultura de subsistência era à base da sobrevivência dos primeiros habitantes. No período das chuvas, plantavam feijão, milho, mandioca. No período da seca, plantavam alho, cebola e outras verduras e frutas nas vazantes. E ainda criavam bovinos, eqüinos, caprinos e suínos. Com o passar do tempo e conseqüente aumento da população e da produção, como também pela necessidade de outros produtos que não se obtinham por aqui as pessoas viajavam para o Maranhão, Ceará e outros estados para vender seus produtos e comprar outros básicos, como arroz, sal, óleo comestível, gêneros alimentícios, enfim, mais utensílios domésticos, tecidos, entre outros.
O povoamento foi acontecendo aos poucos e somente a partir do início do século XX, mais precisamente entre os anos de 1903 e 1920, com o apogeu da maniçoba, é que a população começou a crescer. Gente de todos os estados vizinhos vieram se juntar ao nosso povo para a extração desse produto. O ciclo da maniçoba, da qual se extraía e comercializava o látex, foi a primeira grande atividade extrativista comercial do Piauí e durante vários anos foi a principal fonte de renda do povoado, assim como de todo o estado. Esse comércio entrou em declínio em nossa região, em virtude da crescente concorrência com outros centros produtores e da descoberta de outros produtos sintéticos substitutos da borracha da maniçoba.
Veio, então, o ciclo da carnaúba, que já acontecia paralelamente ao anterior, embora em pequena escala. A carnaúba é uma palmeira nativa da região nordestina e é encontrada no Piauí com grande facilidade. Nosso estado foi o maior produtor nacional da cera de carnaúba, que por essas épocas tinha um mercado consumidor muito grande, pois seu uso era vasto. Entrava, por exemplo, na fabricação de óleo usado para iluminação, de velas, pílulas, emplastros, ungüentos, sabão, material isolante, discos fonográficos, polimentos, graxas, lubrificantes, encerados em geral, papel carbono, bem como servia de matéria-prima da indústria bélica, para a fabricação da pólvora. Durante a Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945), a cera de carnaúba atingiu um preço muito elevado e quase toda a produção era exportada para a Europa por meio do porto de Parnaíba. Podemos, então, dizer que esses dois ciclos foram os grandes impulsionadores do aumento populacional do nosso Rodeador.